Sunday, January 5, 2014

A inutilidade das teorias

Durante os anos de 2010 e 2011, aquele que vos escreve, vivia o estagio final de sua busca, a insatisfação com o mundo e consigo mesmo, a injustiça da manipulação de seres humanos por outros, o desrespeito com o planeta, com os animais e dos próprios humanos uns com os outros, me colocou em uma peregrinação frenética por entender esse mundo, essa realidade e o porque das coisas serem assim, estava no caminho que podemos chamar de caminho do conhecimento, tudo que eu podia ler, assistir, ouvir, eu li, assisti, ouvi, e como pratica, adotei a meditação, a recitação de mantras, exercícios de respiração, uma dieta estritamente vegana(nada derivado de animais), passei por um processo ascético chamado, processo dos vinte e um dias, onde a pessoa fica em jejum durante vinte e um dias e sem água durante sete dias(por favor, não façam isso), buscava retiro em um espaço afastado da cidade, em meio a natureza, onde são feitas vivencias coletivas, onde haviam pessoas com profundo conhecimento daquilo que eu estava buscando, quando eu fui pra lá pelas primeiras vezes, levei um sentimento de mudança, tudo que eu queria era mudar esse mundo, ele era injusto, cruel, capitalista, nesse ponto eu já tinha compreendido toda teoria quântica, já tinha tomado consciência de todas as descobertas cientificas, de todas as teorias de Einstein, do trabalho  de Tesla, das descobertas mais recentes da física, estudei a fundo e com profundo interesse, a teoria das cordas, do tudo, as teorias a respeito dos seres humanos de Jung, Freud, Nietzsche, estudei os filósofos gregos, a origem da matemática, conheci então o numero de ouro e a sequencia de Fibonacci, percebi então que havia uma inteligencia primordial que arquitetou tudo isso, passei de um posicionamento totalmente ateu a um respeitoso e silencioso condicionamento devocional, religioso, estudei os sumérios, mayas, egipicios, o budismo, o hinduísmo, todas as práticas propostas eu adotava, pratiquei alguns tipos de yoga, resumindo, fiz tanta coisa que não serei capaz de citar todo o percurso, por que muita coisa nem lembro, e pouco importa, no final de 2012, minha namorada estava gravida, minha situação no trabalho era estável, mas enfrentava dificuldade no relacionamento com meus colegas, via as pessoas nesse mundo como um bando de bestas sem coração, principalmente quando via as cenas de como os animais são abatidos para consumo, por acreditar não fazer parte disso, me sentia um santo da compaixão e da pureza espiritual, mas não podia compreender como, se uma inteligencia criou tudo isso, por que parece ter sido uma "divina burrice", faltava muito pouco, então nos últimos meses de gravidez passei por um estagio de abstinência sexual, foi neste período que comecei a tomar conhecimento da não dualidade, que é o estagio final de todas as religiões, no hinduísmo é conhecido como Advaita Vedanta,( A= não, Dvaita= dual, Veda= conhecimento, Anta= final) então toda a teoria sobre a verdade já era conhecida, muitos conceitos duais eu já tinha abandonado, mas dentro de mim ainda havia o certo
e o errado, o bem e o mal, a escuridão e a luz, o aceitável e o inaceitável, o guerreiro e o desafio, o desejo e a conquista, o amor e alguém pra possui-lo, eu e tu, eu e Deus, minhas opiniões e os fatos, ainda havia julgamento, ou seja, mesmo com toda a teoria sobre a verdade, sobre o amor, sobre a liberdade, eu não conhecia a verdade, eu não conhecia o verdadeiro amor, eu não conhecia Deus, eu não entendia o porque disso tudo, então passei, no inicio de 2013, a me dedicar exclusivamente ao estudo da não dualidade, para entender essa dualidade dentro de mim, que a observação silenciosa da suposta meditação revelou, então comecei a conhecer alguns mestres desse assunto e achava lindo o que eles diziam pois confirmava todas as minha teorias, tinha lido Osho, o livro, Tantra a suprema compreensão, quando tinha uns doze anos, mas não tinha entendido muito bem, passei a entende-lo melhor desde então, passei a conhecer e estudar com profundo interesse todos os mestres do advaita, foi então que conheci o Satsang, assisti a muitos de Mooji, Papaji, e de alguns brasileiros incluindo o gaúcho Satyaprem, comecei a participar de encontros on line com outros mestres, mas nada disso resolvia o conflito interno e externo, dentro e fora, entre os meus aspectos positivos e negativos, entre os aspectos negativos e positivos da realidade observável, uma certa semana eu havia brigado com todas as pessoas próximas de mim, então eu estava em uma profunda depressão, mesmo eu sendo um santo, um exemplo de pureza e compaixão(achava que era), tudo continuava escapando do meu controle e dava errado, então me dirigi para esse espaço retirado, onde comecei uma discussão ferrenha com o mestre que lá reside, onde eu negava veementemente a minha própria existência, e ele me julgava dizendo que o que eu queria era fugir das minhas responsabilidades, minha mente funcionou tanto, nessa batalha intelectual, que meu lóbulo frontal parecia ter duzentos quilos, então ele disse uma coisa muito interessante: você fala muito bem, conhece muito bem as teorias a respeito do sabor da fruta, mas nunca a provou, você não sabe como é, só em teoria, nossa isso foi a lição final e eu aceitei de todo coração, eu não conhecia  a verdade de que Jesus falava, então fui para casa e comecei a praticar o método direto de Ramana Maharshi, o maior sábio do seculo vinte, praticamente desconhecido no ocidente, a auto inquirição, perguntar a si mesmo "quem sou eu" e recusar qualquer resposta da mente, ouvir o silencio, colocar toda teoria de lado, desconsiderar todo conteúdo intelectual, me manter como isso que vê tudo, quieto, mas que não pode ser visto, que não é um conceito, que a mente não pode descrever, não pode nomear, foi aí que tudo aconteceu, o véu da ilusão se dissipou, então a suprema compreensão me foi revelada, o espirito santo desceu sobre mim, e todos esses modos de descrever a iluminação, que é basicamente dar-se conta que não existe eu e Deus, só Deus, só Eu, não há separação entre as coisas, TUDO É UMA COISA SÓ, PERFEITA, ETERNA E IMUTÁVEL, todo conflito cessou, toda a ilusão acabou, todo sonho terminou, todo desejo, todo medo, durante três dias todo o suposto processo evolutivo, todo o suposto funcionamento do cosmos, toda a arquitetura da construção do universo me foi revelada, e parecia que esse fogo dentro de mim aumentava, queimando todas as minhas ilusões, todo medo, toda culpa, toda magoa, desapareceram por completo, eu morri como pessoa, humano, me tornei o
todo, eterno e imutável, me fundi ao o reino dos céus, me tornei Deus, me tornei onipresença, todas as duvidas foram esclarecidas, eu não tinha mais posição, o positivo e o negativo deram lugar a unidade, imóvel, perfeita, imutável, uma felicidade incondicional, um êxtase, um sentido de pura liberdade, amor, paz, tomou lugar nisso que achava que era eu, eu ria sem nenhum motivo, o que se vê é que todo esforço é em vão, você é isso o tempo todo, tudo é isso, tudo que acontece é parte de um programa, uma brincadeira disso que realmente, absolutamente e relativamente sou, tudo que eu queria saber instantaneamente era respondido, no final do terceiro dia eu estava tão imerso nessa presença absoluta, que não havia mais duvidas, não havia mais questões, tudo havia sido esclarecido, não havia mais metas, eu podia sentar em baixo de uma arvore e ficar lá pra sempre, eu havia alcançado a unica, a mais profunda e significativa, realização humana, nada mais me interessava nesse mundo, eu me converti em puro êxtase, em pura felicidade, tudo que era amargo ficou doce, as pessoas riam sem motivo a minha volta, sem saber por que, podiam desfrutar dessa luz que irradiava deste organismo que pensava ser Eu,  eu não precisava que elas soubessem disso, eu apenas estava despertando algo nelas mesmas, sem que elas se dessem conta, uma graça, uma dadiva, um magnetismo, todo esse organismo foi modificado, sua química foi alterada, foi rejuvenescido uns vinte anos, depois disso tudo mudou, o mundo se revelou uma grande brincadeira, então durante a tarde do terceiro dia, tudo despareceu por completo, mesmo eu estando consciente, não havia objetos na consciência, até havia mais não era uma outra coisa, era eu mesmo, não havia mais um corpo, um planeta, um espaço, tudo se tornou silencio, absoluto, tudo estava lá e ao mesmo tempo não estava, um total e absoluto vazio, e essa é a verdade final que me acompanha até hoje, nada existe, nunca existiu e nunca vai existir, não há finalidade nem objetivos, o todo é um sonho do nada, a absoluta não existência, que vive a ilusão relativa de existir, é a própria não existência que produz a ilusão de existir, de si mesma para si mesma, e se ilude com isso, não há nada além disso, mas eu não sentei em baixo de uma arvore, eu continuei sendo o Flávio, o simplório e comum cidadão gaúcho, santa cruzense, agora eu sei quem e o que realmente sou, o que é tudo isso, mas continuo parecendo um homem, vivendo em um planeta chamado terra, onde eu sou mais de um, onde sou muitos, onde sou masculino e feminino, onde sou ignorância e sabedoria, e tudo está sempre bem, não importa o que aconteça, é tudo um sonho, não há mais confusão, permaneço no sonho, sendo o sonho, onde eu tenho uma filha, um trabalho, "problemas" pra resolver, sendo temporariamente tudo isso, mas a paz, a liberdade, a felicidade, o amor, o que realmente sou, jamais é alterado, não é temporário, é eterno, jamais se confunde com a brincadeira em que tudo, é mera diversão.
Resumindo, teorias são inúteis, se você está com sede não adianta imaginar-se bebendo água, ou pensar na palavra água, conheça a si mesmo, esqueça os livros, esqueça as tradições, esqueça a religião, esqueça os mestres, os santos, a mente, o intelecto, as praticas, morra como a ideia de ser humano, renasça como Deus, você é Deus, não o conceito de Deus, o absoluto vazio, o relativo todo, a ausência de imagem, de som, em meio a todo tipo de ruido, ausência de sentido, no meio de um oceano de sensações, não precisa fazer nada nem ir a lugar nenhum, nem se mover, nem pra dentro, nem pra fora, para encontrar, reconhecer, perceber, constatar a si mesmo, qualquer movimento em qualquer direção só te afasta da verdade, da paz, da completude, do absoluto, que você já é, apenas fique quieto, imóvel, dentro e fora, isso não é algo a ser feito, é algo a não fazer.

"Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus."(Salmos 46:10)

"Seu dever é SER, e não ser isso ou ser aquilo. “Eu sou o que eu sou” resume toda a verdade. O método é “fique em silêncio”. O que significa o silêncio? Significa destrua-se, pois qualquer forma é causa de problemas."

"Não medite, seja, não pense que você é, seja, não pense sobre ser, você é."

Ramana Maharshi




2 comments:

  1. Simples assim, o todo, o equilibrio, a plenitude!

    "Quem tenta dar forma ao mundo
    Modelá-lo a seu capricho
    Dificilmente o conseguirá
    O mundo é um vaso espiritual
    Que não se pode manipular
    Quem o retém, perde-o
    Porque, com respeito às coisas,
    Algumas vão adiante, outras atrás
    Algumas sopram para fora, outras sopram para dentro
    Algumas são fortes, outras são fracas
    Algumas podem romper-se, outras podem cair
    Por isto, o Sábio
    Rechaça o excesso
    Rechaça a opulência
    Rechaça a complacência"

    (Lao Tse - Tao Te King)

    P.S: Mande-me sempre as atualizações do blog.
    Gratidão!

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    1. Muito obrigada pelo comentário e pelo poema! mando sim! :)

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