Wednesday, January 28, 2015

Mickey Mouse e quem você acredita ser

Saber a historia da raça humana, a sua suposta história, é como saber a história do Mickey Mouse, isso que você acredita ser você, que fala, pensa, sente, sorri, chora,  se move, dança, canta, se relaciona com outros, é apenas um personagem fictício de uma história fictícia, a existência, que por ignorância você considera real, que não existe de fato, não é real, esse personagem, esse você, que é a identidade de um corpo, que nasceu em uma determinada data, filho de um determinado casal,  que tem uma nacionalidade, que tem uma etnia, uma cor de pele, de cabelo, de olhos, que tem gostos, preferencias, opinião, é apenas uma pintura em um quadro em movimento, um desenho em um papel, um monte de pixels coloridos se movendo em uma tela de cinema, uma projeção.




Quando você vê o Mickey Mouse, você ignora que o que você realmente está vendo, é apenas tinta no papel, da mesma forma, o papel é como o espaço e a tinta é como a matéria, não há ninguém lá, quando você acredita que você existe, você ignora que o que existe realmente é apenas espaço e a matéria no espaço, formando infinitos desenhos, no entanto, nem papel e tinta e nem espaço e matéria existem, apenas aquilo que vê, que é o constituinte da matéria e do espaço, é que é real, mas, não se enquadra no conceito de existência e não é nem matéria nem espaço, podemos ver de outra forma, há observação, silencio e ruido, ruido é todos os fenômenos, emoções, sentimentos, pensamentos e elementos sólidos, físicos, apenas som em diferentes frequências, comprimento de onda e escalas, densas e sutis, o silencio, oposto do ruido, é o que da destaque ao ruido, que torna possível a sua percepção, a distinção entre esse e aquele ruido,  é o espaço, entre cada fenômeno ou ruido, ou forma, ou objeto, ou energia, movimento, luz ou formação luminosa, que permite a sua manifestação,  é tudo a mesma coisa, mas sem a observação, os outros dois não existem, a observação é a razão primaria, sem a observação não há nada para ser observado, o interessante é que tanto o espaço como o conteúdo no espaço, são constituídos da observação, ou consciência, que não é o conceito, mas isto que está presente agora, que possibilita o acontecer dessa fantasia de um suposto alguém lendo um texto, que acredita na ilusão de que existe um Mickey Mouse, um ser humano, tanto faz, e até acaba acreditando que é isso, um dos desenhos que constitui, de fato você é isso, por que o constituinte nunca deixou de ser o que é por estar constituído algo, é como a tinta, mesmo ela tendo sido usada para desenhar o Mickey Mouse, ela continua sendo a tinta, ou seja, você continua sendo o que você é mesmo se identificado com algo que você constitui, continua ilimitado e indefinível, mesmo constituindo algo limitado, definível, perceptível, na verdade você é a essência de todas as coisas, e não é coisa alguma, está presente como a observação de si mesmo em estados alternados, ininterruptamente, em um estado além de todos os estados, você nunca é o constituído, é sempre o constituinte, mas se confunde, pois o que que é constituído permanece sendo apenas o constituinte.


Para que essa brincadeira nunca se torne desgastante ou monótona, existe uma mecânica que determina tudo, que nenhum ruido jamais deve ser igual ao outro, para que nenhum suposto evento seja repetido, pode ser sempre semelhante em alguns pontos, mas sempre há algum tipo de variação que torna cada fenômeno infinitamente singular, essa mecânica existe para que não haja trabalho nenhum da sua parte, isso não foi criado, isso sempre foi assim, é assim que você é, essa mecânica é como se fosse o desenhista, o autor, é essa mecânica que determina tudo que o Mickey Mouse, ou o ser humano, faz, pensa, sente, quando e como, e não ele próprio, você simplesmente assiste o desenho, o filme ou a vida, você não pode muda-la, nem precisa, nem pode fazer nada além de assistir, tudo acontece seguindo o script, determinado por essa mecânica, que opera pela sua presença, a presença da observação imparcial, neutra, essa presença é como a luz do projetor, quando você acredita que é o responsável pelo que o corpo faz, fala e pensa é como dizer que o Mickey Mouse é responsável pelo que faz, fala e pensa, ou que a luz do projetor é responsável pelo que acontece no filme, de qualquer modo, o filme ou a vida, é apenas uma encenação fictícia, nada disso está realmente acontecendo, nenhum dos objetos do mundo do Mickey Mouse é real, assim como nenhum dos objetos do universo existe, a essência, o constituinte de toda essa existência fictícia, não é afetado de forma alguma pelo que acontece com os objetos ilusórios que constitui, assim como se o Mickey morresse, o  que morreria? a resposta a essa pergunta define o que você acredita ser, uma ideia, um pensamento, que vive, se move, e morre, na luz daquilo que você realmente é, que nunca nasceu e nunca irá morrer, mas não aceite isso teoricamente, investigue e constate isso por si próprio, se não vai continuar sendo o Mickey, nos outros campos da vida, acreditando ser algo imortal, a constatação disso que você realmente é, é a morte do que você acredita ser, é a morte do Mickey, mesmo que ele continue dançando, cantando e protagonizando infinitas histórias, há agora uma sabedoria, de que nada disso é real.

Veja por si mesmo que o Mickey jamais vai entender o que ele é, que ele não é real, que é apenas um desenho em um pedaço de papel, apenas tinta posta de forma ordenada sobre um espaço vazio, quadros em movimento, que dão a impressão de algo inteligível, vivo, existindo, ele só será capaz de perceber a sua inexistência, se o autor criar uma história onde isso acontece, e quem estará la para perceber a sua inexistência? da mesma forma somente pela ordenação da mecânica do cosmos, o homem pode compreender a sua natureza, reconhecer a sua não existência, mesmo que na história pareça ter sido dado a ele por alguma experiencia, por algum mérito seu, ou resultante de seu próprio esforço em descobrir a verdade sobre si mesmo. tudo não passou de uma brincadeira, mesmo que ele tenha passado por todos esse desafios de sua "busca magica", no final, ele percebe que nada nunca aconteceu e o que ele buscava sempre foi apenas o evidente e derradeiro fato de sua própria realidade,  sua não existência, encarar a sua não existência não é tarefa fácil, mas é uma tarefa muito mais complexa e árdua perpetuar a sua ilusão de existir, ou buscar uma identidade mais elevada, que esteja além dessa falsa, que se alimenta e se perpetua exatamente nessa busca, se de repente o Mickey parar a sua busca, ou despertar para um estado de felicidade que não depende de absolutamente nada, nem de se mover, nem de ficar parado, nem de ter, nem de ser, independente das circunstancias, o que veremos em suas histórias animadas? da mesma forma o medo do tédio, mantém o homem nessa constante busca pelo desconhecido, pela experiencia, pela satisfação circunstancial, e essa é sua miséria, pois a verdadeira satisfação está em si próprio, não dentro nem fora, mas na constatação da verdade sobre toda a existência, não a verdade sobre si mesmo ou sobre o mundo, mas no fim dessa separação, da verdade e daquele que a descobre, que a conhece, pois enquanto há alguém pra conhecer a verdade ela não pode ser conhecida, morra, desapareça, que é simplesmente reconhecer que não existe ninguém aí, que você não existe, então o que irá morrer ou desaparecer? assim como o Mickey você acredita ter uma personalidade, ser essa personalidade, que é o que o diferencia do Pluto, do Pato Donald, do Pateta, acredita ter um gênero que é o que o diferencia da Minie, da Margarida, da Clarabela, se eu disser para uma criança, que o Mickey não existe ela vai dizer, "existe sim!" de certo modo existe mesmo, mas não é real, assim como você, que nada mais é que o próprio pensamento, uma confusão criada pelo pensamento, que criou um pensador, que é ele próprio, o pensamento é o eu, da frase "eu penso", e na sua astucia concluiu, que assim como o Mickey, "penso logo existo", mas esse que pensa que pensa, é o próprio pensamento que criou uma falsa entidade, que assim como o Mickey, existe, mas não é real. 

O veneno do nomear

Nomear é o principio do engano, o mascaramento do silencio, que não é silencio nem ruido, não o fim, o nascimento da mente, a falsa queda da unidade, que não é unidade nem diversidade, o inicio da sensação falsa de fragmentação, o pecado da distinção, o simples surgimento do pensamento eu, cria uma contração da realidade em si mesma, um ilusório posicionamento, uma falsa compressão e um falso desconforto, uma falsa sensação de falta, de incompletude, a rejeição de todas as palavras é o fim da ilusão, não importa se elas continuam a surgir, as ignore, não nomeie essa ação, não pense que age, toda palavra é uma mentira, o que existe, não pense que existe, não chame de existência, de existente ou não existente, não chame de coisa alguma, não nomeie, quando o processo de nomear para por completo, ou é desconsiderado mesmo em ocorrência, a realidade se revela, quanto mais o processo de nomear, de distinguir, se aprofunda, mais a ilusão e o sofrimento se amplificam, chega um ponto em que a crença nessa ilusão se torna tão solida que não podemos mais ver um minimo feixe da verdade, verdade que não se difere da mentira, realidade que não se difere da ilusão, por que tanto verdade como mentira, assim como realidade e ilusão, ainda são só pensamentos, palavras, nomes, nomear é um veneno que você mesmo bebe por que pode, um alucinógeno que você toma para se divertir, mas acaba perdido nessa alucinação, esquece por completo que é apenas uma alucinação e a toma por realidade, no principio era o verbo é uma mentira, não há nem principio nem verbo, nem substantivo, nem adjetivo, nem pronome, nem definição, nunca houve, nem palavra é palavra, nem pensamento é pensamento, nem silencio é silencio, isso é tudo isso e nada disso, o
pensamento é a serpente do paraíso, nomear é o mal, que não é mal, não há mal nem bem, isso ainda são nomes, atente pra isso, não lembre disso, não separe o atento, da atenção e do objeto da atenção, não separe o ouvinte do som e do ouvir, não separe o vidente do ver e do visto, não separe o sujeito do objeto, o observador do observado pelo nomear, nadar no mar da distinção das palavras é rejeitar a felicidade da realidade, até mesmo a poesia é um lobo em pele de cordeiro, o pensamento não vive sem você, toda palavra precisa que você acredite nela, que você a repita muitas vezes até que acredite que ela é indispensável, até que você acredite que aquilo que você nomeou, a coisa em si, é o nome que você deu, toda palavra é um parasita, que o engana pra que você o alimente, o fazendo acreditar que sem ele você não é nada, mas sem as palavras o que você é? você pode se perguntar: como posso viver no mundo sem as palavras? veja o quanto você está dependente de algo inútil, use as palavras, não permita que elas o o usem, o hipnotizem, não as abrigue como peças de ouro, não as valorize, quando todo conteúdo mental, cem por cento dele, perde o significado, a importância, a felicidade sempre presente transborda, é a maior conquista que você pode obter, não haver você e não você, esquecer tudo, todas as palavras e seus significados, isso é a verdadeira liberdade, não a palavra, não o significado, mas a coisa em si, apos ler isso esqueça tudo isso, ponha em pratica o que foi dito, não guarde isso, veja isso, sem o vidente, o ver e o visto, seja isto, sem o eu, sem o ser e sem o isso.