Thursday, January 23, 2014

Zé ninguém


Quando você realmente estiver contente em não ser, em não ser alguém, em ser um "zé ninguém", nada importante, nada especial, nada mais nem melhor que os "outros", quando você puder entender o contentamento que surge de reconhecer essa simples verdade, que naquilo que é você, acontece a mente, que faz você acreditar que você é uma pessoa, e que essa pessoa precisa ser alguém, extraordinário, incomum, único, roubando toda sua atenção pra essa ilusão, então você realmente pode ser a liberdade, aquilo que você realmente é, onde nenhuma pessoa existe, e tudo que existe é apenas amor, mas não essa palavra esse conceito amor, algo que está além de qualquer conceito, mas que podemos chamar assim por ser uma total ausência de julgamento, você nunca mais acredita nas mentiras da mente, por que a mente também não existe mais, nada pra ensinar, nada pra aprender, nada pra mudar, nem mesmo deixar tudo ser como é, é mais uma tarefa, é algo que acontece naturalmente, como a chuva, o clarear do dia, o ar entrando nos pulmões, as células se reproduzindo, o verdadeiro sábio é um "zé ninguém", ele não desempenha nenhum papel importante em nada, nem o pretende, qualquer posição que você acredite estar ocupando ou alcançando que supere os outros ou a si mesmo, seja ela intelectual , física, espiritual, o escambau, é a causa da sua miséria, é a sua ilusão de separação, de infelicidade, de meta, de objetivo, de um desafio ou de um desafeto, a ser vencido, de um status a ser mantido, de um titulo a ser conquistado, e nada disso existe, mas essa mente te convence de que isso é real e importante, de que você é alguém, que tem amigos e inimigos, e que você precisa vencer os inimigos e ser importante para seus amigos, eles precisam ver o quanto você é especial, interessante, inteligente, belo, magnifico, relevante, compassivo, instruído, e o fato, engraçado digamos assim, é que você não existe, esse você em uma busca por ser alguém, separado do todo, que é impessoal e sem oposto, sem amigos ou inimigos, sem ninguém pra admira-lo, para inveja-lo, nada além do todo,
inerte, imóvel, eterno, nada além dele mesmo, esse você distinto do todo ou no todo, não existe, repito, não existe, não importa o quanto você esteja convencido disso, isso não existe, não existe nem uma, nem duas, nem três pessoas, não existem pessoas, não existe pessoa alguma em lugar nenhum, você não é uma pessoa, se relacionando com outras pessoas, só existe você, uma presença absolutamente singular e impessoal, onde nada muda, as coisas que parecem mudar são feitas disso que não muda, dessa presença singular que realmente é você, sem objetivo nenhum, nunca é melhor nem pior, isso é despertar, isso é iluminação é a morte desse eu, diferente, que se distingue dos outros, que é diferente, distinto, desse eu que escreve esse texto, que é diferente, distinto do texto, do computador, da parede, da sala, do cachorro, do ventilador, do verme, do rato, do mosquito, do espaço, das estrelas, das galáxias, do escarro de um mendigo sujo, todo mijado e fedido, que não liga pra suas fezes secas, entre as suas nádegas, que ele não limpa depois de excretar, tornando seu fedor mais intenso, você não é melhor que os piolhos que moram nesse mendigo, você não é e nunca vai ser melhor que os dentes podres que ele tem na boca, prestes a cair, não importa quantos banhos você tome por dia, quantas horas medita, quantas horas ora ou repete mantras, quantos livros leia, filmes assista, discos escute, instrumentos toque, quantas horas você passou na faculdade, quantos títulos tenha conquistado, não importa o quanto você acredite que mereça ser melhor que qualquer coisa, você não é  e nunca será, desista, quando você desiste de seguir os preceitos da mente, ou seja, de toda essa cultura de separação, distinção, discriminação, então você descobre algo impressionante, você é tudo, tudo que você tem nojo e tudo que você adora, já, nesse instante, tudo para e há paz, paz real, não a suposta paz que você sente quando fuma um baseado, ou toma um chazinho da Amazônia, joga uma pelada ou "medita" em grupo, e isso é a verdade, a verdadeira felicidade, que você jamais vai encontrar, tentando ser alguém melhor, subir mais alto, é engraçado por que a mente sempre vai projetar um outro alguém ainda mais no alto que você, pra que você continue prisioneiro de uma ilusão, a de que você precisa sempre estar a superar algo, ilusão que você mesmo criou e aprendeu a ver como realidade, quando esse alguém, que nunca existiu, finalmente desaparece, então você compreende quem você é, e só então você pode ser aquilo que você é, de fato, um zé ninguém, para então realmente conhecer e compreender o que é felicidade, amor, liberdade, sem nenhum esforço, sem nenhum mestre.
Mas não se sinta culpado, não mude nada na sua vida, do lado de fora, nada está errado, o ego, essa ilusão de individualidade, está aí pra ser parte dessa brincadeira, mas se ele não te deixa em paz, não tem te deixado experimentar a verdadeira satisfação, de não ter que ser melhor que nada e que ninguém, nem que você mesmo, de não ter que se comparar a nada, leia esse texto de novo e de novo, o obstáculo não é o individuo compreender ou não compreender, o obstáculo é o indivíduo.

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