Thursday, December 29, 2016

A necessidade de perdoar

O que está implícito na necessidade de perdoar, o que está por trás dessa atitude tão valorizada, considerada tão importante nas relações humanas? A responsabilidade, a autoimagem, o ego, a necessidade de perdoar surge apenas quando nos ofendemos, se nos ofendemos é porque estamos identificados com aquilo que não somos, se estamos identificados com aquilo que não somos, somos prisioneiros da ignorância, do ego, quando isso ocorre nos responsabilizamos pelas ações do corpo, pelo que pensamos, nos culpamos ou nos orgulhamos do que acreditamos fazer, pensar. A dois mil e quinhentos anos buda nos presenteou com a seguinte oração: Há pensamentos mas não há pensador, há ações mas não há agente, por que ignoramos essa simples verdade sofremos, culpamos os supostos outros pelas as suas ações e nos sentimos culpados por nossas ações, a raiz de todos os aparentes problemas da humanidade é sempre em todas as situações o ego, que é a identificação daquilo que realmente somos com uma imagem, miragem, um conceito, uma ideia, uma historia, um corpo, um ser humano, uma ficção, da mesma forma que estamos identificados, criando essa ilusória entidade, esse falso eu que é o agente responsável pelas ações, pensamentos, o culpado ou meritoso, que não existe, da mesma forma vemos o outro como sendo essa entidade, o culpamos, o julgamos, e o condenamos ou o perdoamos, quando a luz daquilo que realmente somos, dissolve toda essa confusão, então essa ilusão acaba, não há outros, não há esse você como esse fazedor ou pensador, há apenas você como pura consciência, absolutamente só, se desdobrando em uma infinidade de formas e personagens fictícios, animados ou inanimados, espaço e conteúdo, sem controle nenhum sobre suas ações, um teatro, filme, imaginação, que não lhe afeta de forma alguma, quando há essa compreensão, que não é mental ou intelectual mas uma vivencia direta e indubitável, o que acontece ou não acontece se torna absolutamente irrelevante, insignificante, mero entretenimento, se você consegue adentrar neste panorama, a necessidade de perdoar, de procurar o que é útil ou que funciona, desaparece, por que não há mais julgamento, não há mais situações boas ou ruins, o que acontece é sempre o que tem que acontecer, goste você ou não, alias, você não distingue isso é bom ou isso é ruim, é o ego que o faz, você é pura e apenas consciência, todo o resto são apenas projeções dessa consciência, nela mesma, dela mesma, para ela mesma, mas não a mudam ou afetam de forma alguma, aquele organismo, onde a consciência está desperta da identificação, da autoimagem, pois consciência não tem nenhuma necessidade de se identificar, não tem imagem, não tem identidade, neste organismo todo esse drama da culpa e do orgulho desapareceu, ele não culpa mais os outros pelas suas ações, afinal eles apenas estão seguindo o roteiro, não possuem autonomia , nesse organismo não há mais uma entidade fazendo coisa alguma, não há mais o desejo de moldar a experiencia de acordo com suas preferencias, seja qual for a experiencia é sempre neutra, e apenas observada sem participação direta, as ações desse corpo ainda seguem o roteiro, mas agora são pautadas no amor incondicional da consciência, Deus, aquilo que você realmente é e sempre foi, onde não há necessidade de mudar o que quer que seja, onde não não há necessidade de perdoar, onde há uma apreciação incondicional infinita, por todas as nuances, das mais obscuras as mais maravilhosas, desse sonho divino.

O que há lá?

Você é pura consciência, ok, não há nada além de consciência, ok, mas... este ok representa um entendimento teórico, conceitual, ou a experiencia de ser pura consciência onipresente?
Se sim, questões relacionadas a humanidade, ao sofrimento, a desigualdade social, ao destino do planeta sequer devem surgir, não digo que por algum esforço você deve suprimi-las, simplesmente não surgem, se surgem, não surgem para a consciência, a consciência não tem nenhum tipo de preocupação com o que quer que seja, não reconhece nada além de si mesma e sua infinita, ilimitada e onipotente imaginação, investigue isso e constate, o que a consciência quer, anseia, deseja, o que a consciência está dizendo ou fazendo agora? Quando alguns mestres apontam para a via direta como algo não gradual, como uma não pratica, isso significa que estar consciente da consciência não exige tempo nem esforço, mas por outro lado um certo esforço e tempo é exigido para que a consciência, você, se desapaixone, se desencante da imaginação, ou seja , do corpo, das pessoas, do mundo, do universo, das imagens, do irreal, dos conceitos e ideias, da mente, silenciar a mente também exige um processo de desconstrução, um trabalho de desconsiderar reais o mundo dos conceitos, por exemplo, nenhum conceito existe, uma arvore não existe, arvore é um conceito, em um determinado momento esse conceito foi aplicado a um determinado objeto, mas esse objeto poderia ser rotulado de outra forma, com outro conceito, fogo por exemplo, e aquilo que identificamos, rotulamos como fogo poderia ser rotulado como lápis, e por que não? quando você vê aquilo que rotulamos com o conceito de arvore, algo existe lá, mas não é uma arvore, o que há lá? Aplicamos essa pratica mais algumas vezes, então, existe, algo e lá são conceitos também, eu, você, o mundo, a humanidade, e até a consciência são conceitos também...
então...
o que há?
haver também é um conceito...

Além do limite do ridiculo

Se o ego fosse capaz de enxergar toda sua miséria, o quanto todos seus movimentos, crenças, opiniões, valores e princípios, esperanças e expectativas o colocam além do limite do ridículo, o quanto todas as suas ações e falas apenas confirmam a sua infinita ignorância e estupidez, o quanto foi inútil todo seu esforço no intuito de afirmar a sua existência, seu esforço devorando livros, obtendo títulos, diplomas, mestrados, doutorados ou até mesmo curtidas no Facebook, views no youtube, se ele fosse capaz de ver além da sua total inconsciência, da incapacidade que os objetos, seus zeros na conta bancaria, carros na garagem, eletrodomésticos, roupas, sapatos e moveis atrolhados nos seus imoveis, são, de lhe proporcionar uma real satisfação, que a insatisfação, a miséria e o sofrimento são justamente os pilares que o sustentam, se o ego tivesse esse poder, ele automaticamente se suicidaria e deixaria esse organismo, a qual ele vem parasitando, livre para vivenciar o amor, a paz, a liberdade, a infinita satisfação, a verdadeira e ilimitada felicidade sempre presente, deixaria esse organismo livre para ser o que ele realmente é, livre desse desejo de ser alguém, de ser importante, relevante, significativo, desejos e anseios injetados nesse organismo por esse parasita, o fazendo se mover no mundo como um débil mental altamente qualificado, afim de sustentar a si próprio e perpetuar sua ilusória existência, se o ego tivesse essa capacidade o mundo não seria esse circo de palhaços ridículos, neuroticos e suas certezas ridículas, do qual qualquer organismo que tenha se libertado de seu domínio, desse verme parasita, de sua ardilosa e convincente hipnose, se passando por você, ri, como se assistisse uma obra prima da comedia, um sonho que estupidamente o ego considera ser a realidade.

É muito fácil identificar o ego, sua base é a ideia de que que você é um e eu sou outro, de que as estrelas estão lá e você aqui,  de que você muda, se move, escolhe, pensa, fala e faz, de que existe qualquer tipo de distinção entre você e o que quer que seja, de que esse corpo é você e todo o resto do universo não.